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A Corrida do Ouro na Califórnia no século XIX


A Corrida do Ouro na Califórnia no século XIX - História em Destaque

Representação da descoberta de ouro em Sutter’s Mill, pelo pintor Valoy Eaton.


Desde a chegada dos exploradores às Américas, a busca por ouro tem sido uma força que impulsionou a colonização e migração no Novo Mundo. No entanto, o ouro permaneceu longe dos olhos dos primeiros colonizadores europeus das treze colônias, que encontraram no tabaco um meio de sustento. A recém-formada América consolidava seu domínio sobre terras cada vez mais disponíveis, adquirindo o território da Louisiana que pertencia à França e estabelecendo uma fronteira sólida com o Canadá, até então controlado pelos britânicos. A expansão para o oeste tornou-se parte integrante do que significava ser americano. Foi durante esse período de expansão que o ouro foi descoberto pela primeira vez em Sutter’s Mill, na Califórnia, em 1848.


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A descoberta de ouro

A corrida do ouro na Califórnia iniciou-se após uma publicação do jornal New York Herald em 19 de agosto de 1848. A notícia da descoberta de ouro no rio Sacramento levou muita gente a se mudar para o oeste dos Estados Unidos. Na esperança de se tornarem ricas, milhares de pessoas de todo o mundo povoaram a região da Califórnia nos meses seguintes. No entanto, nem todo mundo teve a mesma sorte, na verdade, poucas pessoas conseguiram enriquecer com a corrida do ouro. A própria pessoa que descobriu as primeiras pepitas terminou seus últimos dias na pobreza.


Na manhã de 24 de janeiro de 1848, James Marshall, carpinteiro da serraria Sutter’s Mill, no American River em Coloma, Califórnia, encontrou ouro. A notícia da descoberta do ouro se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos e pelo mundo, iniciando uma corrida desenfreada por ouro no oeste americano. Entre os anos de 1848 e 1855, cerca de 300.000 aventureiros a procura de fortuna chegaram a Califórnia, transformando sua paisagem, população e economia. Em 1849, ocorreu a maior onda migratória – cerca de 90.000 pessoas –, apelidada de “Quarenta e Nove”. A Corrida do Ouro na Califórnia trouxe para alguns uma enorme riqueza, mas para outros, uma devastadora ruína financeira. No entanto, seu alcance foi muito além da esfera econômica – mudando os EUA em uma velocidade espantosa. Em 1852, cerca de 20.000 chineses passaram pela Alfândega de San Francisco – 2.000 deles em um único dia. Garimpeiros vindos do Chile e México também disputavam com os anglo-americanos as riquezas almejadas pela Corrida do Ouro.


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Por volta de 1848, San Francisco era uma pacata vila de apenas 800 pessoas. No final de 1853, a Corrida do Ouro transformou o assentamento em uma cidade em rápida expansão. Havia consulados de 27 países, 7 governos estrangeiros e prédios de seis andares onde antes existiam dunas. “A Corrida do Ouro transformou não só a Califórnia, como também toda a América”, diz o historiador JS Holliday. “Ao lado da Guerra Civil no século XIX, nenhum outro evento teve um impacto maior, reverberações mais duradouras do que a Corrida do Ouro.”


Durante a Corrida do Ouro na Califórnia, os caçadores de fortunas não tinham nenhuma garantia de que iriam conseguir ao menos um “salário”, pois o garimpo do ouro era um trabalho muito difícil. Os garimpeiros determinavam um local, passando a ter direito sobre qualquer ouro ali encontrado. Eles utilizavam técnicas de mineração que incluíam o uso de ferramentas semelhantes a peneiras, balancins ou caixas de eclusa para separar as pepitas de ouro das rochas e sujeiras. Com a expansão da Corrida do Ouro, os mineradores passaram a utilizar técnicas mais invasivas, como detonação hidráulica. Entre os primeiros aventureiros (conhecidos também como Gold Rushers) que chegaram em 1848, poucos conseguiram encontrar impressionantes fortunas de ouro na Califórnia. Para os sortudos que encontravam o ouro, na maioria das vezes o minério era usado como moeda para pagar a alimentação, suprimentos e outras necessidades, para continuar procurando mais e mais; os comerciantes locais eram os que mais enriqueciam.


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A Corrida do Ouro romantizada

Após o fim da Guerra Mexicano-Americana, em 1848, o México foi obrigado a ceder grande parte da Califórnia, assim como Nevada, Arizona, Novo México e Colorado, aos Estados Unidos. A população que habitava aquela região era em sua maioria de nativos americanos e pessoas de origem espanhola ou mexicana. O momento da descoberta do ouro na Califórnia ocorre num período em que o governo dos EUA buscava maneiras para afirmar sua identidade como nação. A expansão já estava acontecendo em um ritmo acelerado. Em 1848, o Oregon foi legalmente reconhecido como parte dos Estados Unidos, solidificando sua expansão para o noroeste do Pacífico. A partir desse momento, o governo americano precisaria manter suas reivindicações enviando cidadãos para esses territórios.


Um folheto de 1849 da Corrida do Ouro na Califórnia - História em Destaque

Um folheto de 1849 da Corrida do Ouro na Califórnia. (Domínio Público).


Os anúncios da época destacavam os ideais do país, retratando o oeste como uma vasta extensão de terra não reclamada, pronta para ser explorada. Os cidadãos leitores viam a vida rural na costa leste muito mais dura do que seria viver no oeste, e imaginavam-se chegando na região e encontrando ouro pronto para ser arrancado do solo ou da água, terras férteis prontas para serem lavradas e cultivadas, e um deserto pronto para ser habitado. Havia canções e exposições de arte exaltando as virtudes daqueles que se aventuravam para domar o oeste, ignorando as dificuldades que esses imigrantes enfrentariam e a presença dos nativos americanos que ocupavam aquelas terras.


A jornada para o oeste

Os caçadores de ouro chegaram à região por rotas marítimas e terrestres, como a Trilha da Califórnia. À medida que os aventureiros chegavam às áreas de mineração, as “cidades em expansão”, como São Francisco, reunia imigrantes europeus, sul-americanos, chineses e norte-americanos. Esse fluxo de pessoas, combinado com o desrespeito às reivindicações dos nativos americanos à sua terra ancestral, resultou em uma devastadora perda para os nativos na Califórnia. Muitas das vezes o Estado não conseguia aplicar suas leis ou era mal equipado para lidar com a avalanche de recém-chegados – violência, grupos de vigilantes e jogos de azar eram comuns na região.


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Os europeus chegaram de trem, navio e carroça, cruzando a vasta pradaria no centro do continente americano, os chineses e filipinos atravessaram o Pacífico. Essas pessoas se juntaram aos imigrantes americanos da costa leste enquanto se deslocavam pela recém-criada Oregon Trail (Trilha do Oregon), e mudaram de direção (para sudoeste) em algum lugar que se tornaria o Wyoming, cruzando montanhas e desertos e arriscando suas vidas em busca do tão sonhado ouro.


O garimpeiro comum

A explosão da Corrida do Ouro na Califórnia coincidiu com a evolução da fotografia como ferramenta jornalística e documental na América, o que possibilitou uma riqueza de evidências fotográficas sobre a experiência dos garimpeiros e mineiros na procura por ouro. Esses registros fotográficos retratam homens desbravando o deserto, e famílias americanas criando nichos de civilização em meio a florestas e desertos. Mas também são testemunhos da dura realidade do dia-a-dia daqueles que migraram para o oeste em busca de ouro – invernos rigorosos, trabalho árduo e verões escaldantes.


O trabalho no garimpo e nas minas

Como dito anteriormente, poucos foram aqueles que ficaram realmente ricos garimpando em minas e riachos no oeste, principalmente nos primeiros dias da Corrida do Ouro. Infelizmente, para a grande maioria dos aventureiros que deixaram suas casas e seguiram para a Califórnia, Alasca, Nevada e outras minas de ouro, o trabalho foi duro e a recompensa insignificante. Todos os dias, os garimpeiros ficavam por horas vasculhando as águas geladas de riachos em busca de fragmentos de ouro. Túneis foram escavados nas montanhas em condições físicas horríveis. Disputas por espaços levaram à violência que ceifou vidas, geralmente em cidades em torno das descobertas de ouro, onde praticamente não havia lei. Muitos estudiosos acreditam que a Corrida do Ouro representava a crença de que o minério – disponível para quem pudesse pegá-lo primeiro – significava o sonho americano do direito inalienável à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Muitos dos homens abandonavam o sonho de riqueza fácil e, sem sucesso, seguiam de corrida do ouro em corrida do ouro até não conseguir mais participar do trabalho exaustivo.



Como eles viviam

Nos locais de exploração do ouro, surgiram as chamadas boomtowns – cidades ou vilas que experimentavam um aumento repentino de tamanho e atividade comercial. Outro fato importante era a mistura de classes e raças que ocorriam nessas novas cidades, o que raramente acontecia em cidades mais antigas. Havia uma interação entre nativos americanos, imigrantes europeus e asiáticos, e cidadãos americanos, todos com um único desejo – encontrar ouro. Estudiosos observam que a relativa ausência de mulheres nestas cidades levou muitos homens a se comportar de maneira diferente da que teriam em uma “sociedade educada” –, a maioria das mulheres nas cidades ou vilas eram de nativas, prostitutas ou imigrantes que pertenciam a classes que não se comportavam da mesma forma que a classe média, e muitas das vezes eram mulheres de classe alta que haviam sido abandonadas pelos companheiros que se aventuraram na Corrida do Ouro. As Boomtowns alcançaram taxas muito altas de homicídio durante suas existências relativamente curtas. Itens como alimentos e roupas eram de difícil acesso, pois os varejistas usavam a falta de oferta, a dificuldade de acesso e a alta demanda para explorar os habitantes com preços exorbitantes. Mas em áreas de garimpo menores, a vida era muito mais complicada – garimpeiros viviam em barracos (muitos com sua família) construídos improvisadamente no deserto a quilômetros de vizinhos, consequentemente, obrigados a se virar sozinhos. Há inúmeros relatos de pessoas da época que descrevem as dificuldades que os garimpeiros e demais habitantes das cidades enfrentaram durante a Corrida do Ouro.


Esfaqueamento de Hopkins pelo juiz Terry, na Jackson Street. Biblioteca Bancroft, Universidade da Califórnia.


Quem ficou rico com a Corrida do Ouro

O rápido movimento das empresas de mineração, comprando os direitos de exploração e empregando mineiros por uma mixaria, preços altíssimos dos itens básicos para sobreviver nas cidades em expansão e reivindicações cada vez mais esgotadas, mostravam que o garimpeiro médio provavelmente não teria um lucro significativo. No entanto, aqueles que viam os locais de exploração como oportunidades para investir ou exercer seus negócios eram que geralmente ficavam ricos. Os lojistas e donos de mercearias que vendiam alimentos básicos retiraram muitos garimpeiros de suas atividades para realizar tarefas como cuidar de jardim e assar pães. Donos de casas de jogos e garotas muitas das vezes roubavam o dinheiro de homens que haviam acabado de encontrar ouro e estavam ansiosos por diversão em lugares sem lei.



Legado

A Corrida do Ouro no século XIX e início do século XX foram eventos imensamente importantes que mudaram a identidade internacional dos EUA e sua cultura nacional. Esses eventos ajudaram a pavimentar o caminho para uma nova América. Eles também impactaram de forma profunda e duradoura a geografia dos EUA, estimulando migrações massivas de população que trouxeram o Estado e comércio que transformaram extensos territórios em novos estados norte-americanos limitados no oeste, como Califórnia (1850) e Idaho (1890), e pequenos assentamentos em grandes cidades como San Francisco e Denver.


Como já sabemos, os primeiros aventureiros que migraram durante a Corrida do Ouro viajaram de navio a vapor e de carroças, mas todo esse fluxo de pessoas e suas necessidades econômicas estimularam o crescimento das ferrovias, conectando as costas dos EUA, culminando na criação da Ferrovia Transcontinental em 1869. A nova ferrovia sanou o problema do deslocamento do leste para o oeste e auxiliou na expansão em áreas despovoadas no interior do país para o desenvolvimento, povoamento e exploração.


Bibliográfica

GIBSON, Samantha. California Gold Rush. 2018. Disponível em: https://dp.la/primary-source-sets/california-gold-rush#tabs. Acesso em: 4 de abril de 2024.



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