Mandíbula humana masculina encontrada na caverna Tianyuan. Imagem: Shaoguang zhang / Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados.
Humanos modernos que se estabeleceram no Leste Asiático e Europa há mais de 40.000 anos, se locomoveram por um vasto planalto do norte da China, onde caçaram veados-vermelhos, e podem ter encontrado Neandertais e outras pessoas arcaicas. Misteriosamente em algum momento da última era do gelo, eles desapareceram. Uma nova pesquisa de genomas antigos revela que há 19.000 anos, a paisagem era povoada por outro grupo de humanos caçadores-coletores que foram os ancestrais dos povos asiáticos de hoje. Os cientistas sugerem que esse grupo substituiu os primeiros humanos modernos no nordeste da Ásia.
Esse acontecimento no Leste Asiático na era glacial reflete assustadoramente o que aconteceu na mesma época na Europa. O grupo dos primeiros humanos modernos chegou 45.000 anos atrás, e esses humanos foram substituídos por outros grupos de caçadores-coletores 19.000 a 14.000 anos atrás. O geneticista populacional David Reich, da Harvard Medical School, declarou que “é emocionante ver alguns paralelos reais na Europa e na Ásia”. David não faz parte do novo estudo.
Ao analisar o DNA de uma mandíbula humana masculina encontrada na caverna Tianyuan, perto de Pequim, provou que humanos modernos chegaram ao Leste Asiático há cerca de 40.000 anos. De acordo com o DNA extraído de uma calota craniana descoberta no Vale Salkhit da Mongólia, essas pessoas ainda estavam lá 34.000 anos atrás. Há uma lacuna no registro fóssil entre 34.000 e 9.000 anos atrás na região que se estende da Mongólia ao norte da China e ao leste da Rússia. Os arqueólogos discutiram sobre o aparecimento de novas ferramentas de pedra e cerâmica na região por volta de 12.000 anos. A discussão era sobre quem havia feito – novos migrantes ou os descendentes do grupo anterior. “Definitivamente, havia humanos modernos vivendo no Leste Asiático há 40.000 anos, mas quem sabe o que aconteceu com eles? ” Diz a paleogeneticista Qiaomei Fu, da Academia Chinesa de Ciências.
Fu e uma equipe de cientistas chineses extraíram DNA antigo de pedaços de ossos de 25 pessoas encontrados na região de Amur na Rússia, extremo leste do Planalto da China. A datação por radiocarbono revelou que esses indivíduos viveram de 34.000 a 3.4000 anos atrás. O DNA de uma mulher que viveu entre 34.000 e 32.000 anos atrás mostrou que ela era intimamente relacionada ao fóssil do homem Tianyuan de 40.000 anos. O estudo revelou ainda que, tanto o homem Tianyuan quanto a mulher de Amur compartilham cerca de 75% de seu DNA com a mulher do Vale Salkhit na Mongólia, indicando que os três pertenciam a grupos inter-relacionados de humanos modernos que se deslocaram pelo Leste Asiático por pelo menos 7.000 anos, afirma Fu.
Análises no DNA de um homem de 19.000 anos indica que um novo grupo surgiu na região de Amur; ele estava intimamente mais relacionado aos povos do Leste Asiático de hoje do que aos fósseis de humanos modernos anteriores. Um estudo do genoma de mais outros dois homens que viveram cerca de 14.000 anos atrás também estão relacionados aos genomas de homens siberianos que podem ter originado os primeiros nativos americanos. Os três indivíduos estudados faziam parte de um grupo ancestral dos atuais asiáticos do norte, mas não dos asiáticos do sul. Os pesquisadores acreditam que essas duas populações se separaram 9.000 anos antes que se pensava.
A antropóloga biológica da UC Berkeley e do Centro Nacional de Pesquisa para Evolução Humana da Espanha explica que, “com a evidência do DNA antigo durante um período tão longo, esses autores foram realmente capazes de testar hipóteses em vez de apenas descrever padrões”.
Fonte: Sciense