A história da raça do Cavalo Quarto de Milha Americano
- 15 de set
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Garanhão Peter McCue. Foto dos arquivos do The American Quarter Horse Journal
As lendárias histórias do início da criação de gado no estado americano do Texas falam de um cavalo que se chamava Steel Dust e, ele voava, mas sem nunca sair do chão.
Steel Dust nasceu no Kentucky, descendente do Sir Archy. Em 1844, o jovem cavalo Steel Dust chegou ao Texas. Sua origem e lenda logo se espalhou entre os cowboys que conduziam o gado da raça Longhorns pelas trilhas do Texas e desbravavam as Grandes Planícies para a pecuária. Daí em diante, o nome Steel Dust passou a identificar uma raça inteira de cavalo; a espécie favorita dos cowboys. Segundo a publicação da American Quarter Horse (AQHA), estes cavalos eram “musculosos, marcados por orelhas pequenas, mandíbula grande, inteligência notável e velocidade relâmpago de até 400 metros (ou ¼ de milha)”. O cavalo Quarto de Milha Americano Steel Dust e sua espécie alcançariam fama em proporções magníficas e lendárias.
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No entanto, a história do Quarto de Milha não se iniciou com o Steel Dust. Ela começou muito antes de os cowboys do Texas começarem a amarrar suas cordas na sela. A origem da raça remonta à América Colonial. Em uma época em que os antepassados americanos gostavam de corridas de cavalos. Inicialmente, eles realizavam corridas com cavalos ingleses, os mesmos que usavam para arar a terra e cavalgar.
Os fazendeiros colonos dos estados americanos da Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virgínia descobriram que havia um cavalo mais rápido que o inglês, criado pelos nativos Chickasaw. Esses pôneis indígenas eram os Barbo ou Barb (cavalos do norte da África), levados para o estado americano da Flórida pelos pioneiros colonizadores espanhóis. Essa raça de cavalo era a mesma usada por Hernán Cortés na conquista do México; o mesmo que Francisco Vásquez de Coronado montou em sua busca pelas cidades repletas de ouro no sudoeste americano. Este tipo de cavalo era o resultado do cruzamento do barbo com a raça nativa espanhola após a invasão dos muoros à Espanha, no início de 710 d.C.
Evidências mostram que os cavalos ingleses dos Colonos cruzaram com os Barbos Espanhóis dos Chickasaws, já em 1611. O resultado desse cruzamento, ao longo de 150 anos, viria a ser o celebre Cavalo Quarto de Milha Americano de Corrida. “O termo ‘Quarto de Milha’ refere-se à distância, um quarto de milha, mais comumente percorrida em corridas coloniais, frequentemente nas ruas principais de pequenas vilas”. (AMERICAN QUARTER HORSE ASSOCIATION, 2025)
Os colonos que chegaram à América e sobreviveram aos animais selvagens ou ao escalpelamento dos índios, deixavam claro que estavam ali para ficar. Eles haviam construído suas fazendas e cidades por toda a costa atlântica. Os puritanos do Nordeste se dedicaram mais à igreja, enquanto os sulistas deram mais atenção aos seus velozes cavalos.
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Em 1728, um garanhão conhecido como Godolphin Arabian chegou à Inglaterra e revolucionou as corridas de cavalo. Ele era um dos três reprodutores fundadores do Puro-Sangue Inglês.
Junas, um neto do Godolphin Arabian foi importado pelo rico fazendeiro da Virgínia, John Randolph, em 1752. O cavalo importado foi cruzado com éguas de sangue do cavalo dos Chickasaws, resultando em um protótipo do cavalo Quarto de Milha Americano. Embora não seja possível afirmar que Janus foi o fundador da raça, pode-se argumentar que ele a moldou. Janus era um cavalo corredor de longa distância que imprimiu aos seus potros a velocidade em curta distância, assim como a capacidade de transmitir para as gerações sucessivas suas características (compactação de forma, força e potência).
Esse animal possui variadas cores, mas todas são sólidas. A altura do Quarto de Milha adulto varia de 1,45 m a 1,65 m, e seu peso varia de 431 kg a 544 kg. Os cavalos dessa raça têm um temperamento calmo e cooperativo.
Paralelamente, outros criadores de cavalos coloniais escolheram o estilo inglês, excelente em corridas de longa distância, de até quatro milhas (cerca de 6,5 quilômetros). O Puro-Sangue Americano também evoluiu com a importação de garanhões, como o Fearnought.
Após a Revolução Americana (1775 – 1783), o Puro-Sangue Americano se popularizou ao longo da costa atlântica. A vida nessa parte da nova república havia superado a luta pela sobrevivência em uma terra desolada e hostil. Fazendeiros ricos, cujas roupas eram fabricadas em Londres, construíram para esses cavalos pistas de corrida de longa distância e fazendas de criação da raça.
A fama do Quarto de Milha ecoava como uma experiência pioneira nos Estados Unidos da América. Eles tinham as características necessárias à vida em uma fronteira selvagem: rapidez e resistência.
“Eles podiam carregar um homem em seus afazeres durante a semana toda e depois correr intensamente no fim de semana”. Esses animais foram levados para o oeste pelos bravos homens que desejavam vastas terras para o Centro-Oeste, para o Texas e para as Grandes Planícies.

Yellow Jacket na Trilha Chisholm. Esse garanhão nasceu em 1908, gerado por Little Rondo. Sua linhagem remonta o lendário Steel Dust, o que faz dele um dos chamados “Steeldusts”. Imagem de: Richard Chamberlain/American Quarter Horse Journal.
Durante esse período, o garanhão Sir Archy deixou sua marca no Quarto de Milha. Ele nasceu em 1805, filho do garanhão importado Diomed. Os seus filhos e filhas teriam importante influência no desenvolvimento do cavalo Quarto de Milha durante os 500 anos seguintes. O grande Copper Botton, um dos filhos de Sir Archy, chegou ao Texas em 1839, levado pelo General Sam Houston. É importante ressaltar que, tanto Silhon quanto Steel Dust, garanhões considerados fundadores do Quarto de Milha moderno, remontam a Sir Archy. Os garanhões Tiger e Pinter também contribuíram significativamente para a linhagem do Quarto de Milha na mesma época.
A parte final da genética que produziu o Quarto de Milha surgiu a oeste do Rio Mississippi. Era o cavalo Mustang, um descendente selvagem do Barbo, levado para o sudoeste americano pelos exploradores, colonizadores e missionários espanhóis. Os Mustang transformaram os índios das planícies em guerreiros montados mais fortes que o mundo já viu.
Cruzado com os descendentes de Janus, Sir Archy, Tiger e Printer, o Mustang adicionou o último ingrediente importante para completar a criação de um cavalo exclusivo da América.
O Quarto de Milha Americano foi o cavalo que os campos das pradarias onde seriam constituídas as fazendas, transportou caçadores de búfalos e compôs as remudas de cowboys do Rio Grande aos campos de Alberta. Seu porte físico e seu temperamento tornaram esse cavalo ideal para enfrentar as dificuldades enfrentadas para conquistar o Oeste.
As corridas de cavalo de 400 metros passaram a fazer parte do Oeste americano. Elas estavam presentes desde as terras de Illinois e Ohio, passando pelo Kentucky, Missouri e Arkansas, seguindo pelo Território Indígena e pelos pântanos da Louisiana até o Texas. Nessas corridas, os homens competiam com seus cavalos por dinheiro ou simplesmente uma garrafa de whisky de milho.
Não há dúvidas de que no Texas a raça Quarto de Milha encontrou seu lar natural. Até então, o principal valor econômico desse cavalo era como um cavalo de corrida de curta distância. No estado do Texas, o Quarto de Milha se tornou um cavalo de boi. Foi no Texas que a produção de gado de corte ocidental se originou, e onde os meninos das plantações de algodão foram transformados em cowboys (vaqueiros), transportados pelo Quarto de Milha pelas trilhas dos Longhorns.
Praticamente todas as linhagens do cavalo Quarto de Milha estiveram representadas no período das grandes pastagens e das trilhas no Texas. Por volta de 1844, o lendário Steel Dust chegou ao Texas. Cinco anos mais tarde, foi a vez de Shiloh chegar em solo texano. O cavalo Billy, filho de Shiloh e de uma égua filha de Steel Dust, se tornou o fundador dos Cavalos Quarto de Milha no Texas.
As grandes criações de gado de campo passaram a se desenvolver logo após o fim da Guerra Civil Americana. No começo, o gado selvagem era reunido no sul do Texas e, em seguida, levados para o norte, até a ferrovia do Kansas. O cavalo Quarto de Milha era bastante valorizado pelos vaqueiros.
Os cowboys chamavam o Quarto de Milha de “Steelsusts”, em homenagem ao garanhão cujos feitos nas corridas eram amplamente conhecidos.
A pecuária se estabeleceu por toda a Grande Planície durante a segunda fase da industrialização do gado de campo. Para o sucesso de uma fazenda eram necessários um bom cavalo, uma boa fonte de água e um bom pasto. Os cavalos criados pelos homens que implantaram o gado nas Planícies foram melhorados muito antes de melhorar o gado. Os vaqueiros que buscavam um cavalo de trabalho mantinham o sangue puro desses animais.
A raça do Cavalo Quarto de Milha Americano se manteve preservada, mesmo sem um registro de raça ou livro genealógico, graças aos homens que apreciavam a importância desses animais, preservando a integridade do sengue.
Um desses magníficos homens era Coke Blake, que dedicou sua vida ao aprimoramento do Cold Deck, uma linhagem dos Steel Dust e Billy. Seu cavalo mais importante foi o Tubal Cain, um neto do Cold Deck. A fama dos cavalos de Blake se espalhou por toda a região.
O defensor ferrenho da raça Steel Dust foi Dan Casement, do Kansas e Colorado. Casement defendia o tipo tradicional do Cavalo Quarto de Milha original. O cavalo fundador do plantel de Casement foi Concho Colonel, descendente da linhagem Billy. Dan Casement se tornaria uma figura chave na organização da Associação Americana do Cavalo Quarto de Milha (AQHA).
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No sul do Texas, havia homens cujos nomes estarão para sempre ligados ao desenvolvimento do Quarto de Milha. Eram eles Ott Adms e George Clegg, que acreditavam que a velocidade era a qualidade essencial de um Quarto de Milha, fosse correndo nas pistas ou laçando bois no pasto, ou na arena. (AMERICAN QUARTER HORSE ASSOCIATION, 2025)
Os cavalos mais famosos de Adams foram: Little Joe, filho de Traveler, e seu filho, Joe Moore. Já os maiores cavalos de Clegg estavam os cruzamentos da linhagem Billy com o garanhão Peter McCue (O garanhão Peter MacCue é considerado o reprodutor mais influente no aprimoramento da raça). Clegg utilizou a linhagem Billy de éguas Rondo, criando cavalos como Old Sorrel, o fundador dos Cavalos Quarto de Milha King Ranch.
Embora Adams e Clegg tenham deixado marcas importantes na raça, o primeiro homem a tentar definir o Quarto de Milha como uma raça distinta foi o inglês William Anson. Ele nasceu na Inglaterra e se tornou um excelente jogador de polo. Aos 21 anos, Anson se mudou para o Texas, onde estabeleceu seu rancho. Anson ficou fascinado pelos cavalos com grande habilidade no manejo do gado, rápidos e inteligentes. Logo que ele teve contato com a raça, começou a rastrear suas origens. Anson foi a primeira pessoa a publicar informações que ligavam o Quarto de Milha Americano às suas origens coloniais. Ele adquiriu cavalos em todo o Texas durante a Guerra dos Bôeres, o que lhe possibilitou a formação de um bom plantel de éguas que ele cruzou com seus cavalos, Jim Ned (linhagem do Billy) e Harmon Baker, um filho de Peter McCue.
Outro criador de cavalos que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da raça foi Samuel Watkins, em sua fazenda no estado de Illinois. Watkins tinha grande paixão por cavalos de corrida. Ele fez o cruzamento do Jack Traveler, filho de Steel Dust, com a égua June Bug, meia-irmã de Steel Dusta, e obteve uma magnífica égua, a Butt Cut. Após uma carreira de sucesso nas corridas, Watkins cruzou Butt Cut com Barney Owens, filho de Cold Duck, que era um cruzamento Steel Dust-Shiloh. Como resultado, Watkins obteve um potro que ele nomeou de Dan Tucker. A maioria dos criadores do Texas obteve seus cavalos a partir do plantel de Watkins. Os famosos Hickory Bill, Harmon Baker e MacCue vieram todos da Fazenda Little Grove Stock, em Illinois.
Outro homem que preservou o sangue original do Cavalo Quarto de Milha Americano foi Coke T. Roberds. Esse texano cresceu como cowboy em Trinidad, Colorado, e iniciou sua criação de cavalos no oeste de Oklahoma por volta de 1898. Roberds adquiriu um grupo de éguas Steel Dust e, logo que retornou ao Colorado, cruzou-as com seu garanhão, Old Fred, um descendente de Steel Dust e Shiloh. Roberds também foi o último proprietário do cavalo Peter McCue do criador Watkins.
Blake, Casament, Adams, Anson, Clegg, Watkins, Roberds e outros como eles reconheceram a importância do Quarto de Milha. A dedicação destes homens em manter os cavalos chamados “Steeldusts” levaria à organização da Associação Americana do Cavalo Quarto de Milha (AQHA).
Bibliografia
THE History of the American Quarter Horse Breed. American Quarter Horse Association, [s.d.]. Disponível em: https://www.aqha.com/pt/history-of-the-quarter-horse. Acesso em: 13 de setembro de 2025.










