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Esses pesos da Idade do Bronze na Grécia, pesavam quase o mesmo que seus equivalentes em outras partes da Europa e do Oriente Médio. Crédito da imagem: IALONGO ET AL.
Os antigos comerciantes da Idade do Bronze enfrentaram problemas para saber se estavam lucrando numa transação. Normalmente, é imprescindível um governante com autoridade, como um rei, um faraó ou talvez a União Europeia, constituir os pesos padrão, equivalente a uma unidade de valor no período anterior às moedas e notas.
Na Mesopotâmia os comerciantes criaram um sistema de pesos padronizado que mais tarde se espalharia pela Europa, possibilitando o comércio em todo o continente. Um estudo recente sugere que os comerciantes europeus da Idade do Bronze eram uma exceção. O crescimento efetivo criou o primeiro mercado da Eurásia conhecido há mais de 3.000 anos. Em sepulturas pela Europa foi encontrado bolsas ou caixas que continham vigas de osso, pinças para coletar restos de ouro ou prata e pesos de pedra.
“Isso é um duro golpe para a ideia de que as elites ou uma autoridade central estão comandando o show”, disse o arqueólogo Maikel Kuijpers da Universidade de Leiden, que não estava envolvido com o trabalho. “Os [pesquisadores] têm um caso ótimo.”
A mais de um século, historiadores e pesquisadores acreditavam que os padrões de peso eram comunicados do alto, primeiro implantado pelo rei ou autoridade religiosa para coletar impostos ou tributos, e só depois adotados pelos mercadores. Os primeiros artefatos considerados pesos, por exemplo, só foram descobertos na antiga Mesopotâmia e Egito nas civilizações altamente estratificadas.
Um grupo de pesquisadores da Georg August University of Göttingen, na Alemanha, passaram 9 anos visitando coleções de museus e analisando pedras e outros objetos que eles achavam que poderiam ter sido usados para o comércio. Os artefatos de quase 3.000 anos foram escavados em locais como Europa, Anatólia e Mesopotâmia.
A equipe descobriu que, mais de 2.000 desses artefatos fabricados ao longo de 3.000 anos tinham quase o mesmo peso – entre 8 e 10,5 gramas, e estavam numa região de quase 5.000 quilômetros da Grã-Bretanha à Mesopotâmia. “É como se ainda estivéssemos usando os sistemas romanos de medição [hoje], com apenas algumas pequenas variações”, diz o arqueólogo Nicola lalongo. Ele explica ainda que essa unidade era conhecida como shekel. “Os sistemas de peso na Europa eram apenas ligeiramente diferentes dos sistemas de peso na Anatólia, que eram apenas um pouco diferentes dos fabricados na Mesopotâmia”.
Para os arqueólogos envolvidos na pesquisa, foram os comerciantes dessas áreas que mantiveram o padrão de peso, porque era de extrema importância para eles. Toda vez que esses comerciantes se encontravam, traziam suas próprias balanças e pesos, os apresentavam a novos comerciantes ou os compravam. Com o passar do tempo e após vários contatos, nasceu um sistema padrão que estabeleceu as bases para o mercado integrado da Grã-Bretanha à Babilônia.
Após vários testes, os arqueólogos puderam identificar que a imprecisão da balança antiga, induziu a desvios de 25 gramas do peso original de 153 gramas. Esta variação ficou em 5%, dentro de uma faixa aceitável num mercado antigo. Provavelmente os desvios num sistema em que todos os pesos foram copiados de um padrão gerenciado por um palácio, podem ter sido muito menores.
Um estudo semelhante foi publicado no Journal of Archaeological Sciense, onde lalongo e colegas descobriram cerca de 5.000 artefatos de bronze do mesmo período em depósitos na Europa Central, todos múltiplos do mesmo peso de 10 gramas, sugerindo que as pessoas em ambas as regiões usavam o bronze em quantidades padrão como uma forma inicial de moeda.
Os arqueólogos alertam ser muito complicado aplicar esses conceitos econômicos modernos a um passado distante. No século XIX, os arqueólogos colocaram seus conceitos de como as sociedades eram dispostas em relação aos pesos, e concluíram que um rei deveria estar no comando.
Fonte: Science