Imagem: THOMAS BREDSDORFF/MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA. Divulgação.
Em 1942, um capacete de bronze com chifres foi encontrado em um pântano na Dinamarca por um cortador de turfa que cavava no local. O capacete apresenta chifres de touro compridos e curvos, um gorro redondo adornado com o bico e olhos de uma ave de rapina.
Um segundo capacete quase idêntico foi encontrado em escavações subsequentes no pântano. Os pesquisadores acreditam que o adorno foi depositado deliberadamente no pântano em uma bandeja de madeira. Os estudiosos ressaltam que o par de adornos não é evidência de que os vikings que habitavam a região usavam capacetes, eles são muitos mais velhos, revela um estudo recente.
Segundo os pesquisadores, os capacetes foram colocados cerca de 900 a.C., mais de 1.500 anos antes da chega dos primeiros vikings na região. Eles explicam ainda, que a ornamentação dos capacetes pode ter sido influenciada por simbolismos semelhantes na distante Sardenha. As duas partes da Europa pré-histórica separadas por milhares de quilômetros, poderiam estar ligadas por uma rota marítima desconhecida ao longo da costa atlântica conectando o Mediterrâneo a Escandinávia.
Para o arqueólogo Flemming Kaul, do Museu Nacional da Dinamarca que não participou da pesquisa, “o artigo é parte dessa história reveladora, onde vemos contatos culturais de longa distância na Idade do Bronze”.
Na época em que os capacetes foram descobertos, os arqueólogos acreditavam que eles haviam sido feitos na Escandinávia no final da Idade do Bronze, durante um período de três séculos de mudança política, artística e religiosa que teve início por volta de 1000 a.C. Mas sem uma datação precisa dos capacetes, era difícil fazer uma conexão entre a Escandinávia e outras culturas na Europa da época.
Em 2019, a arqueóloga Moesgaard Heide Wrobel Nørgaard, tirava fotos detalhadas de um dos chifres do capacete quando viu uma substância orgânica escura. Foram coletadas duas amostras para a datação por radiocarbono. Em dezembro de 2021, Nørgaard e seus coautores relataram na Praehistorische Zeitschrift que os capacetes foram depositados no pântano por volta de 900 a.C.
Objetos antigos encontrados na Escandinávia assemelham-se ao capacete Vikso. Artefatos como estatuetas de bronze com chapéus e guerreiros com capacetes com chifres são representados em esculturas rupestres. Na Ilha da Sardenha e no oeste da Península Ibérica, estatuetas e arte rupestre datadas do mesmo período comumente retratam guerreiros com capacetes com chifres quase idênticos.
Imagem: ROBERTO FORTUNA OG KIRA URSEM/MUSEU NACIONAL DA DINAMARCA
A arqueóloga Helle Vandkilde, da Universidade de Aarhus, explica que as semelhanças iconográficas entre a escandinava e a sarda sugerem que os comerciantes do Mediterrâneo passaram a navegar pela costa atlântica em direção a Escandinávia há 3000 anos, em vez de seguir por rotas terrestres pelos Alpes.
A datação dos capacetes os coloca em uma época em que a elite política na Escandinávia estava em processo de consolidação de seu poder e a religião estava passando do culto ao Sol para deuses específicos. Os pesquisadores acreditam que os capacetes são mais que tarjes de batalha, eles seriam adereços de rituais repletos de simbolismo animal, representando os vários poderes religiosos cosmológicos. “É o capacete religioso mais impressionante da Idade do Bronze”, diz Kaul.
Os arqueólogos sugerem que o “chapéu de poder” e seus primos com chifres transmitiam autoridade sobrenatural ao invocar ideias importadas do Mediterrâneo com o cobre e o estanha na produção do bronze. Provavelmente, os capacetes foram usados por gerações de líderes governantes.
De acordo com Kaul, “a Idade do Bronze é muito mais interessante do que a Era Viking.”
Fonte: Science