Caverna Bizmoune no Marrocos. MOHAMMED KAMAL. Divulgação.
Um novo estudo sugere que a 142.000 anos, caçadores-coletores onde hoje é o Marrocos, juntaram pequenas conchas marinhas, perfuraram-nas e as amararam para enfeitar seus corpos, cabelos ou roupas. Esse comportamento se espalhou rapidamente pelo norte da África e pelo Oriente Médio. Se os dados se mantiverem, significa que os humanos modernos estavam engajados em trabalhar com contas feitas de conchas 10.000 a 20.000 anos antes do que se pensava.
Segundo Alison Brooks, paleoantropóloga da George Washington University, que não participou do estudo, “as conchas são especiais onde quer que você as encontre, porque quando você usa uma concha em um barbante entorno de alguma parte do seu corpo, você usa seu corpo para enviar mensagens a estranhos sobre sua identidade”.
As primeiras conchas já descobertas vieram das cavernas El Mnasra e Contrebandiers no Marrocos, datando de 103.000 a 122.000 anos atrás. Em Skhul as datas são “duvidosas” e vêm apenas de duas contas de conchas datadas de cerca de 100.000 a 135.000 anos atrás.
Entre os anos de 2014 e 2018, os especialistas encontraram 33 conchas ovais do molusco Tritia gibbosula, todas do tamanho de uma unha. Elas foram escavadas em uma camada de lodo, carvão de antigas fogueiras e pedaços de gnus, zebras e gazelas. Todos os objetos foram encontrados na caverna Bizmoune, uma montanha de calcário de 800 metros no oeste do Marrocos, apenas 12 km a leste do Oceano Atlântico.
O grupo de pesquisadores dataram camadas de minerais de carbonato que se formaram na caverna, inclusive próximo de onde estavam as contas que possivelmente se formou na mesma época. A medição radioativa do urânio em tório naquela pedra indicou uma datação de 142.000 anos atrás. Considerando a margem de erro na data, os pesquisadores acreditam que a camada tenha entre 120.000 e 171.000 anos.
Mas os especialistas estão cautelosos e preocupados com a idade da camada que contém o cordão dependa apenas de uma amostra. Richard “Bert” Roberts, geocronólogo da Universidade de Wollongong, Wollongong, na Austrália, que não fez parte do estudo, diz que gostaria de ver a data replicada por outros métodos, “antes de aceitá-la”. Ele sugere que as contas têm entre 100.000 e 120.000 anos, próximo das contas de outros locais no Norte da África e em Israel.
Independentemente de sua antiguidade, as contas localizadas na caverna Bizmoune revelam que os humanos no norte da África já usavam os mesmos tipos de conchas para criar contas antes que essas ornamentações aparecessem em outras partes da África ou da Ásia. O arqueólogo Abdeljalil Bouzouggar do Instituto Nacional de Arqueologia e Patrimônio de Marrocos e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, que comandou as escavações na caverna Bizmoune explica que: “o Norte da África desempenhou um papel importante nas origens do comportamento simbólico”.
A grande quantidade de contas feitas de concha no Norte da África sugere que os humanos modernos podem ter firmado laços com outros grupos. Provavelmente, essas contas foram amarradas de maneiras diferentes para sinalizar a identidade do clã. Para o arqueólogo Steven Kuhn, da Universidade do Arizona, “usar miçangas tem a ver com conhecer estranhos, expandir as redes sociais”. E, acrescenta, “você não tem que sinalizar sua identidade para sua mãe ou se você é casado com seu marido ou esposa”.
Já a antropóloga Polly Wiessner, da Universidade Estadual do Arizona, em Tempe, e da Universidade de Utah, acredita que as contas são bastantes semelhantes em todas as regiões e difíceis de ver à distância, abrindo espaço para duvidar se elas foram usadas para sinalização de estranhos. Wiessner sugere que as contas foram usadas como presentes para consolidar laços estabelecidos em redes sociais, ou como oferta para compartilhar alimentos em tempos de necessidade futuros. Ela acredita que esses ornamentos da Idade da Pedra foram usados principalmente para “adorno pessoal como forma de realçar a beleza na busca de parceiros”.
Fonte: Science