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DNA antigo pode ajudar tribo da Califórnia a obter reconhecimento federal

Atualizado: 26 de out. de 2022

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barqueiros retratados em uma gravura do século XIX

A colonização espanhola interrompeu os modos de vida tradicionais dos Ohlone que vivem ao redor da Baía de São Francisco, como esses barqueiros retratados em uma gravura do século XIX. LOUIS CHORIS (1795-1828). Science. Divulgação.

Em 1772, quando os padres espanhóis chegaram a atual região da Califórnia, estabeleceram uma série de missões que se estenderam de San Diego às colinas ao norte de São Francisco – todas realizadas por trabalho escravo indígena. Essas missões duraram até 1830, onde dezenas de milhares de nativos americanos morreram de doenças, maus-tratos e desnutrição.


Nessa época, a população indígena da Califórnia – incluindo o povo Ohlone, ou Costanoan, havia sido devastada. Suas terras incluíam grande parte da área da baía de São Francisco. Entre os anos de 1776 e 1833, cerca de 8.000 Ohlone morreram; de uma população pré-colonização de aproximadamente 30.000, havia menos de 100 Ohlone nas primeiras décadas do século XX.


No século seguinte, a tribo foi considerada desaparecida. O antropólogo Alfred Kroeber da Universidade da Califórnia, Berkeley, escreveu que os Ohlone estavam “extintos para todos os propósitos práticos”.


Mas a tribo Ohlone sobreviveu, e hoje tem cerca de 500 membros que lutam desde 1989 pelo reconhecimento federal, utilizando genealogia para traçar suas histórias familiares até o período da missão espanhola. Apenas agora, eles estão recebendo ajuda da genética.


Em uma nova pesquisa, especialistas usaram DNA antigo de duas escavações arqueológicas que vai ajudar na identificação da assinatura genética do Ohlone e conectar indivíduos antigos, alguns sepultados há quase 2.000 anos, aos seus descendentes modernos. A paleogeneticista Jennifer Raff, da Universidade do Kansas, Lawrence, avisa que: “se outras tribos estiverem interessadas em usar a genéticas para investigar histórias, elas podem se sentir encorajadas pelo fato de alguns pesquisadores estarem fazendo esse trabalho de forma cuidadosa.”



Em 2016, pesquisadores identificaram dois locais de aldeias indígenas próximo de Fremont, Califórnia. Os pesquisadores fizeram a datação por radiocarbono que mostrou que um local foi ocupado entre 490 a.C. e 1775 d.C. e outro entre 1345 e 1850 d.C., sendo este último sobreposto à era colonial espanhola na região.


As autoridades da Califórnia reconheceram o grupo moderno Muwekma Ohlone, que reivindica descendência Ohlone, como a comunidade descendente mais provável. Foram recuperados por Ripan Malhi, geneticista da University of Illinois, amostras de DNA de 12 indivíduos que morreram entre 100 e 1805 d.C.


Foram coletadas também 8 amostras de DNA de membros vivos da tribo. O estudo fica mais complexo pela mistura entre californianos indígenas, europeus e mexicanos e outras populações nativas nos últimos 200 anos, mas a equipe deixou de lado as assinaturas de DNA mais comuns dos europeus e comparou todo o resto. Esses elementos combinavam com os de grupos indígenas conhecidos e eram mais semelhantes aos povos antigos dos sítios de Fremont do que indivíduos antigos do sul da Califórnia e Nevada.



Estas novas descobertas contrariam ideias mais antigas de que os Ohlone chegaram pela primeira vez na região da baía vindos do norte por volta de 1500 d.C. anos antes. Segundo Malhi, eles teriam vindo do sul; “se houve um movimento [de norte a sul], foi mais de linguagem do que de pessoas.”


Para Alan Leventhal, coautor da pesquisa, historiador tribal do Muwekma Ohlone e antropólogo da San José State University, o DNA auxilia o estudo genealógico do Ohlone, dando legitimidade à sua causa.


Fonte: Science

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