Barra de chocolate. Imagem de Alexander Stein por Pixabay.
Um novo estudo revela que no auge da riqueza maia o chocolate se tornou a própria forma de dinheiro, e mais, a falta dessa iguaria pode ter contribuído para queda da grandiosa civilização.
O antropólogo David Freidel, especialista em maias da Universidade de Washington em St. Louis, Missouri, que não participou do estudo, acredita que a pesquisa está no caminho certo. O chocolate “é uma comida de muito prestígio”, diz ele, “e quase certamente era uma moeda”.
Grande parte das civilizações antigas, negociavam itens como o milho, o tabaco e roupas. Acreditava-se que com os antigos maias ocorria a mesma coisa, já que eles não usavam moedas como dinheiro. Relatos espanhóis do século XVI indicam que os colonizadores europeus usavam grãos de cacau – base do chocolate – como moeda para pagar os trabalhadores, mas não estava claro se o chocolate era uma espécie de moeda relevante antes da chegada dos conquistadores.
A arqueóloga Joanne Baron da Bard Early College Network, analisou diversas obras de arte maias, se concentrando principalmente em pesquisas publicadas e outras imagens do período maia clássico de cerca de 250 d.C. a 900 d.C. nas planícies do sul do México moderno e na América Central. Essas figuras reproduzem trocas típicas de mercadorias e pagamentos de tributos aos reis maias.
Baron descobriu que o chocolate não aparece muito na arte mais antiga, mas tornou-se predominantemente no século VIII d.C. Parece que é nesse momento que as pessoas passaram a usá-lo como dinheiro, tornando-se um item largamente aceito como pagamento por mercadorias ou serviços em vez de troca única. O cacau era consumido pelos maias como uma bebida quente servida em uma xícara de argila. As primeiras datas das representações de troca são do século VII, em um mural pintado em uma pirâmide que provavelmente foi um mercado central próximo da fronteira com a Guatemala. Na representação, uma mulher oferece uma tigela do que aparenta ser chocolate quente a um homem em troca da massa utilizada para fazer tamales. Baron explica que, embora esta representação sugira que o chocolate estivesse sendo negociado, ele pode não ter sido usado como forma de moeda.
No estudo foram documentadas cerca de 180 cenas diferentes em cerâmica e murais, que mostram diversas mercadorias entregues aos reis maias como forma de tributo ou uma espécie de imposto. Alguns itens são pedaços de tecido e sacolas rotuladas com a quantidade de grãos de cacau secos que contêm.
Os pesquisadores acreditam que o cacau se tornou moeda de troca no momento em que os reis maias coletavam cacau e tecidos como impostos. “Eles estão coletando muito mais cacau do que o palácio realmente consome” diz ela.
Para Freidel o cacau foi mais valorizado do que culturas como o milho, porque os cacaueiros não crescem perto das cidades maias e são suscetíveis ao fracasso da colheita. Muitos especialistas acreditam que o grande motivo da queda da civilização maia clássica foi uma grande seca. Baron acredita que a suspenção do fornecimento de cacau que alimentava o poder político pode ter levado a um colapso econômico.
Alguns pesquisadores acreditam que o fato do aumento das representações artísticas do cacau pode não significar uma maior importância como moeda. Durante o período maia clássico mais e mais pessoas passaram a escrever e pintar coisas em murais ou cenas de cerâmica. “Está realmente ficando mais importante ou estamos apenas aprendendo mais sobre isso?”, questiona Freidel.
Freidel está cético quanto a perda de cacau ter contribuído para a queda da civilização maia. Ele observa que o cacau não era o único tipo de moeda de troca – outros grãos como milho, tecidos e certos tipos de pedra verde também eram utilizadas como dinheiro.
Fonte: Science