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Nesta quarta-feira (21), as autoridades dos EUA e do Canadá anunciaram que ruídos subaquáticos foram detectados no local das buscas. Equipes de resgate dos dois países vasculhavam milhares de quilômetros quadrados de oceano quando descobriram o ruído. Novas operações massivas de busca foram realizadas utilizando ROVs – Veículos subaquáticos Operados Remotamente – na tentativa de identificar a origem, mas os resultados foram negativos. O capitão da Guarda Costeira, Jamie Frederick, afirmou que as equipes continuaram na área onde os ruídos foram ouvidos.
Aqui está o que sabemos até agora sobre a nave submersível e o que pode ter acontecido com ela.
O que aconteceu?
Na manhã de domingo (18), cinco pessoas embarcaram em um submersível chamado Titan, da empresa OceanGate Expeditions, que mergulhou na área dos destroços do Titanic. Após 1 hora e 45 minutos de mergulho a tripulação do navio de pesquisa Polar Prince perdeu contato com o submarino, informou a Guarda Costeira dos EUA.
Na noite de domingo a Guarda Costeira emitiu um alerta aos marinheiros sobre um submersível desaparecido: “embarcações nas proximidades solicitamos manter a atenção, e assistência se possível”, dizia a mensagem de alerta.
O desaparecimento do submarino ocorreu em uma área a cerca de 1.500 quilômetros a leste de Cape Cod, no Atlântico Norte, em águas com profundidade de cerca de 4.000 metros. Os oficiais da Guarda Costeira estimaram que o submersível tinha menos de 40 horas de ar respirável até a tarde de terça-feira.
Na terça-feira (20), Frederick disse em coletiva de imprensa que os esforços de busca é “uma operação incrivelmente complexa”, mas as equipes farão tudo que estiver ao alcance para realizar o resgate. “Há esforços para colocar equipamentos no local o mais rápido possível”, completou Frederick.
A bordo do submarino estava o operador – Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions – e quatro passageiros, que desembolsaram até US$ 250.000 (pouco mais de 1 milhão de reais) por uma vaga.
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Esforços de busca e salvamento em andamento
Segundo a Guarda Costeira, três novas embarcações chegaram à área de busca na manhã de hoje, incluindo uma com sonar de varredura lateral projetado para gerar imagens de grandes seções do fundo do mar. Várias agências estão trabalhando com militares sob um comando unificado nessa busca. Até a tarde de hoje, as equipes de busca contavam com dois ROVs “procurando ativamente”, com vários outros chegando na quinta-feira para se juntar à busca, disse Frederick.
Aeronaves C-130 buscam pelo submersível, assim como uma aeronave P-8 Poseidon, do Centro de Coordenação de Resgate Halifax, com recursos de detecção subaquática. Também estão sendo usados na operação, os P-3 canadenses e boias de sonar, informou a Guarda Costeira dos EUA.
Pouco depois da meia-noite de terça-feira, aeronaves detectaram ruídos subaquáticos na área de busca, mas a Guarda Costeira dos Estados Unidos informou que não sabe a origem dos sons.
Na tarde desta quarta-feira, os resultados produzidos pelos ROVs foram negativos, mas as autoridades afirmaram que a busca continuaria enquanto especialistas da Marinha dos EUA analisavam os dados coletados inicialmente pela aeronave canadense.
"Quando você está no meio de um caso de busca e resgate, você sempre tem esperança. É por isso que estamos fazendo o que fazemos", disse Frederick a repórteres. A aeronave P-3 detectou os ruídos, mas “não sabemos o que são”.
As primeiras notícias sobre o desaparecimento do submersível Titan e da missão de resgate foram divulgadas na manhã de segunda-feira. Em entrevista à CBS News, o tenente Jordan Hart, da Guarda Costeira em Boston, disse que seu pessoal estava liderando a missão, concentrada nas águas de Newfoundland, no leste do Canadá.
A operação de busca e resgate estava sob o gerenciamento do Centro de Coordenação Regional de Boston, já que a localização do naufrágio do Titanic está em território do centro de coordenação de Boston.
Na manhã terça-feira, uma embarcação de colocação de tubos chegou para ajudar nas buscas, e enviou um ROV para procurar o submarino em seu último local conhecido.
Na noite de terça-feira, as equipes compostas por tripulantes da Guarda Costeira dos EUA, Guarda Costeira do Canadá, Marinha dos EUA e Guarda Aérea Nacional haviam vasculhado cerca de 25.000 quilômetros quadrados desde o desaparecimento do submarino.
De acordo com Frederick, a área de busca tem cerca de duas vezes o tamanho do estado de Connecticut, nos EUA, e a busca subaquática estendeu-se por 4 mil metros de profundidade. “As equipes de busca e resgate estavam lidando com um conjunto incrivelmente complexo de circunstâncias”.
“Também temos que levar em consideração as condições climáticas em constante mudança, correntes e estados do mar que expandem a área de busca a cada hora”, disse Frederick à CBS News. "Há uma enorme complexidade associada a este caso devido ao fato de a localização estar tão longe da costa e a coordenação entre várias agências e nações".
A Guarda Costeira disse que seria complicado descrever como seria uma operação de resgate em alto mar, caso o submarino fosse localizado a tempo. “Essa é uma questão que então os especialistas precisam analisar qual é o melhor curso de ação para recuperar o submarino, mas acho que vai depender dessa situação em particular”, disse Frederick.
O contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira, falou em entrevista coletiva na segunda-feira que “No momento, estamos focados em localizar a embarcação. Mas, ao mesmo tempo, se encontrarmos, teremos que realizar algum tipo de resgate”. Ele afirma que está em contato com diferentes possíveis parceiros como a Marinha dos EUA, as forças armadas canadenses e representantes da indústria privada para entender qual a capacidade de resgate subaquática estar disponível.
O que sabemos sobre os ruídos?
A Guarda Costeira reconheceu que os ruídos detectados pela aeronave P-3 canadense podem ser causados por diversas fontes.
Segundo a CBS News, o especialista em acústica subaquática e diretor do Woods Hole Oceanographic Institution, Calr Hartsfield, que está no local das buscas como consultor, explicou que pode ser um grande desafio para os especialistas diferenciar entre “sons humanos” e “sons da natureza” vindos do fundo do mar.
"Mas posso dizer que esta equipe tem vários sensores que estão na área, eles estão enviando dados de volta rapidamente para as melhores pessoas do mundo para analisar esses dados e, em seguida, estão enviando os resultados dessa análise de volta para a equipe unificada e eles estão tomando decisões", continuou ele.
“O som viaja de forma muito eficiente debaixo d’água. Se as pessoas estivessem intencionalmente fazendo barulho dentro do submarino, é muito provável que pudessem ser detectados com uma boia de sonar, e essa posição pode ser traduzida em uma nova área de busca”, disse Chris Roman, professor associado de oceanografia da Universidade de Rhode Island, à CBS News.
O submersível desaparecido
O submersível que desapareceu é de propriedade da OceanGate Expeditions, empresa que implanta submarinos tripulados para exploração em alto mar, em particular, levar turistas até os destroços do RMS Titanic.
O Titanic era um navio de passageiros que naufragou em abril de 1912 após colidir com um iceberg, e seus destroços estão no fundo do oceano a cerca de 600 quilômetros a sudeste da costa de Newfoundland.
Segundo a reportagem da CBS News, a empresa OceanGate havia dito recentemente em seu site e nas mídias sociais que sua expedição ao naufrágio estava “em andamento”. A viagem do submersível Titan estava programada para durar sete noites e foi descrito pela empresa como uma “chance de sair da vida cotidiana e descobrir algo verdadeiramente extraordinário”. De acordo com à CBS News, outras duas expedições estavam programadas para o verão do ano que vem.
Durante a sua viagem de uma semana, o submarino só pode ser totalmente submerso uma parte da viagem devido à capacidade de oxigênio. Segundo Mauger, o submersível tem oxigênio de emergência e capacidade de manutenção de 96 horas se houver uma emergência a bordo.
Quem são os passageiros a bordo do Titan?
De acordo com a publicação da CBS News, as cinco pessoas a bordo do submersível são Hamish Harding, um bilionário britânico e 59 anos; Shahzada Dawood e seu filho, Suleman, também britânicos; o explorador francês Paul-Henri Nargeolet, que realizou vários mergulhos ao longo dos anos para explorar o Titanic; e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, piloto do submarino.
Na segunda-feira, o explorador Rory Golden – primeiro mergulhador irlandês a visitar os destroços do Titanic em 2000 – publicou no Facebook dizendo que fez parte da viagem, mas não estava no submersível que desapareceu.
"Estou bem. Estamos todos focados aqui pelos nossos amigos", escreveu Golden. "Temos uma situação que agora faz parte de um grande esforço de Busca e Resgate, sendo realizado por grandes agências. É aí que está o nosso foco agora."
No início deste mês a OceanGate disse em seu tweet que estava usando a empresa de satélites Starlink, de propriedade de Elon Musk, para manter a comunicação com o submarino durante a viagem.
“Apesar de estarmos no meio do Atlântico Norte, temos a conexão com a internet de que precisamos para tornar nossas operações de mergulho no Titanic um sucesso – obrigado Starlink”, escreveu a OceanGate no Twitter.
O Titan
O submersível apelidado de Titan, é uma embarcação de águas profundas da OceanGate, e considerado o único submarino para cinco pessoas no mundo com capacidade para atingir a profundidade dos destroços do Titanic que está a pouco mais de 3.000 metros da superfície do oceano.
De acordo com a BBC News, além do Titan, existem outras duas embarcações submersíveis de propriedade da empresa OceanGate. O site da OceanGate informa que o Titã pesa cerca de 10.000 quilogramas, tem a capacidade de atingir uma profundidade de até 4.000 metros, com cerca de 96 horas de suporte de oxigênio para uma tripulação de cinco pessoas.
Em 2018, uma ação foi movida contra a OceanGate Expeditions pelo ex-funcionário, o piloto de submersível David Lochridge, que expressou preocupação com a segurança do submarino turístico.
A OceanGate demitiu e processou Lochridge por supostamente divulgar informações confidenciais em uma denúncia à Administração de Segurança e Saúde Ocupacional. Ele disse em um processo judicial que o Titan transportaria passageiros a até 4.000 metros de profundidade, embora nenhum outro submarino havia alcançado essa profundidade com seu tipo de casco de fibra de carbono. Lochridge alegou que ficou sabendo que a embarcação havia sido construída para suportar uma pressão certificada de 1.300 metros, embora o plano da OceanGate era de levar passageiros a 4.000 metros.
Lochridge não era o único a duvidar da segurança do submersível. No mesmo ano da sua denúncia, outros líderes da indústria questionaram a OceanGate sobre a segurança de seu submarino. Em uma carta de 2018, o presidente e CEO do Hydrospace Group, William Kohnen, apresentou suas preocupações a OceanGate, originalmente publicada pelo The New York Times, alertando sobre potenciais problemas com o submersível “experimental”, que não foi certificado. Em entrevista à CBS News na terça-feira, Kohnen disse que, embora não tenha enviado, a carta vazou para a OceanGate, levando a empresa a “alterar uma série de detalhes para garantir que o público soubesse” que o submersível havia recebido sua certificação.
“A carta para a Oceangate foi uma cortesia profissional para o CEO expressando as preocupações da indústria de que a empresa não estava seguindo uma rota de classificação tradicional para a certificação do submersível”, disse Kohnen. "A indústria opera de acordo com um conjunto estabelecido e dinâmico de regulamentos e protocolos de segurança que atendem à indústria submersível em todo o mundo."
O correspondente da CBS, David Pogue lembrou que antes do mergulho no verão passado, assinou uma papelada que dizia, em parte: "Esta embarcação experimental não foi aprovada ou certificada por nenhum órgão regulador e pode resultar em lesões físicas, trauma emocional ou morte".
Pogue descreveu o espaço interno do submersível como semelhante ao interior de uma minivan, com apenas um botão e um controle de videogame utilizado para dirigi-lo, a embarcação “parecia improvisada, com componentes de prateleira”. Ele relata que em sua viagem, o submersível ficou perdido por algumas horas.
"Não há GPS debaixo d'água, então o navio de superfície deve guiar o submarino até o naufrágio enviando mensagens de texto", relatou ele na época. "Mas neste mergulho, as comunicações de alguma forma foram interrompidas."
O que poderia ter acontecido lá dentro?
Em entrevista à CBS News na terça-feira, Butch Hendrick, presidente e fundador da Lifeguard Systems – empresa que realiza treinamento de mergulho para oficiais de segurança pública – disse que provavelmente o Titan tenha atingido o fundo do oceano quando perdeu a comunicação. Ele acredita que o submarino poderia ter se emaranhado em algum lugar, o que poderia ter feito com que a “antena de comunicação” fosse “quebrada” ou “desconectada”, fazendo com que perdesse a comunicação com a superfície.
Hendrick acredita que o provável é que o Titan tivesse “inundado” em vez de implodido. Ele explica que, nas profundezas dos destroços do Titanic, a pressão é cerca de 5.000 libras (ca. 2.268 kg) por polegada quadrada (PSI).
Em um possível vazamento, o sistema elétrico do submersível poderia ser impactado. “Não há como abrir uma porta, não há como abrir uma janela, não há como fazer uma trava interativa”, disse Hendrick.
“Se isso aconteceu, pode ser que eles ainda possam estar vivos, respirando e esperando que alguém venha buscá-los”, disse Hendrick.
As condições eram adequadas para o mergulho?
O fundador da RMS Titanic, Inc. – empresa que recupera artefatos nos destroços do Titanic – falou à CBS News na noite de terça-feira que todas as expedições do Titanic geralmente ocorrem em uma “janela meteorológica de três meses” entre o final de junho e setembro, quando as águas do Atlântico Norte estão mais calmas.
Harris questionou o porquê do mergulho do Titan ter sido realizado no domingo (18).
“No momento, é muito cedo na temporada, não sei por que o OceanGate saiu tão cedo”, disse Harris.
Outro fato observado por Harris é o do uso de um sistema de transponder que ele sempre utiliza em suas expedições, mas que ele acredita que o Titan provavelmente não tinha.
Harris disse à CBS News que o Titan fio “colocado em um trenó e jogado na água e sua única navegação é do navio de apoio na superfície”.
"Eu pessoalmente não sigo isso", disse Harris.
Fonte: CBS News
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