Reconstruções 3D de Protolenus (Hupeolenus) e Gigoutella mauretanica.(Crédito da imagem: © Arnaud Mazurier | Universidade de Poitiers)
Os trilobitas são um tipo de artrópode extinto, que faz parte do grupo de animais com pernas articuladas, incluindo mais de 1 milhão de espécies de caranguejos, insetos, aranhas e centopeias vivas atualmente. Eles viveram de 521 milhões de anos a 250 milhões de anos atrás, sendo a forma de vida mais abundante em depósitos fósseis da Era Paleozoica. Até agora, já foram descritas mais de 20.000 espécies de trilobitas, com corpos que variam de 2 milímetros a mais de 90 centímetros de comprimento. Entretanto, apenas 30 espécies conhecidas preservam um par de antenas e/ou pares de pernas biramificadas.
Fósseis de trilobitas mortos durante erupção vulcânica revelaram detalhes do artrópode até então desconhecidos, apesar dos milhões de fósseis já coletados e analisados. Esses novos espécimes, os quais são do período Cambriano, foram fossilizados rapidamente por cinzas vulcânicas há mais de 500 milhões de anos.
A pesquisa com os trilobitas foi realizada por uma equipe de pesquisadores, liderada por Abderrazak El Albani, geólogo da Universidade de Poitiers, na França.
Segundo a publicação da University of Bristol, os cientistas “descobriram um agrupamento de pares de pernas especialmente ao redor da boca”, mostrando de forma mais clara como esses artrópodes se alimentavam.
“A cabeça e os apêndices do corpo tinham uma bateria de espinhos densos voltados para dentro, como os dos caranguejos-ferradura, manipulando e rasgando presas ou carcaças recolhidas à medida que eram movidas para a frente em direção à boca”, explicou Berks.
Esse tipo de abertura estreita atrás do chamado lábio – conhecida em artrópodes vivos – nunca havia sido visto tão claramente em trilobitas. Os pesquisadores puderam observar que os apêndices na borda da boca têm bases curvas e não foram detectados anteriormente em fósseis menos preservados devido ao seu tamanho – extremamente pequeno.
Os fósseis foram encontrados em deposição de rocha composta de cinzas vulcânicas no leito raso do mar – habitat dos trilobitas –, no Marrocos, e datam do Período Cambriano, há cerca de 540 milhões de anos. Com os trilobitas, foi morta outra espécie conhecida como “lamp Shells” (braquiópodes) que se prendia aos artrópodes por meio de um pendulo em vida. Elas foram fossilizadas rapidamente quando as cinzas se transformaram em rocha.
“A superfície externa dos trilobitas, todas as suas pernas e as lamp Shells que pegavam carona nelas foram moldadas como impressões na rocha vulcânica, enquanto o trato digestivo dos trilobitas foi preservado após ser preenchido com cinzas”, diz a publicação.
As impressões na rocha foram analisadas usando microtomografia de rais X de alta resolução (XRµCT), que detectam densidades distintas da rocha na qual o trilobita foi moldado e o espaço vazio que o corpo ocupava. Os pesquisadores também utilizaram modelagem computacional em 3D para analisar a anatomia dos trilobitas. “O trabalho do computador é árduo, mas valeu definitivamente a pena. Esses trilobitas parecem tão vivos que é quase como se pudessem rastejar para fora da rocha”, diz Harry.
Reconstrução 3D de Protolenus (Hupeolenus) sp., renderizada com transparência e mostrando a segmentação do sistema digestivo (azul).(Crédito da imagem: © Arnaud Mazurier | Universidade de Poitiers)
Esses fósseis encontrados na “Pompeia pré-histórica” são magníficos porque não são deformados como a maioria dos fósseis e cada perna está organizada como era em vida. Greg Edgecombe do Museu de História Natural de Londres e coautor do estudo, explica que tem estudado trilobitas há quase 40 anos, mas nunca sentiu “que estava olhando para animais vivos tanto quanto com esses”.
Segundo os pesquisadores, o estudo traz novas informações não só sobre a anatomia e biologia dos trilobitas, mas também sinaliza o potencial de cinzas vulcânicas em ambientes marinhos rasos como um local para fósseis bem preservados. As rochas vulcânicas são pouco estudadas, pois a maioria dos pesquisadores não espera encontrar fósseis nesses locais. No entanto, esse estudo mostra que vale a pena procurar em deposição de cinzas vulcânicas. “Quem sabe quais segredos ainda precisam ser descobertos nessas rochas pouco estudadas?”, disse Philip Donoghue, coautor do estudo.
Fonte: University of Bristol