América do Norte pré-colonial
- 25 de ago.
- 8 min de leitura
Atualizado: 27 de ago.
Modelo de Cahokia Mounds, Illinois, que floresceu entre c. 650 - c. 1350 d.C. (CC BY).
A América do Norte pré-colonial (também chamada pré-colombiana) foi o período entre a migração dos paleoíndios para a região entre 40.000 – 14.000 anos atrás e o primeiro contato entre indígenas e colonos vindos da Europa no século XVI d.C. que eliminou a cultura nativa americana, substituindo-a pelo que hoje é os Estados Unidos da América e o Canadá.
Em 1492, Cristóvão Colombo (l. 1451 – 1506) deu início à colonização europeia das Américas, quando desembarcou nas Índias Ocidentais, encorajando os esforços dos franceses, holandeses e ingleses para estabelecer assentamentos na América do Norte a partir de 1534 até 1620.
Os nativos americanos viviam em tribos antes da chegada dos europeus nas regiões do atual Alasca, no Canadá e nos Estados Unidos. Os estudiosos modernos dividiram essas nações autônomas em períodos:
Cultura Paleoíndia-Clóvis – c. 40.000 - c. 14.000 a.C.
Cultura Dalton-Folsom - c. 8500 - 7900 a.C.
Período Arcaico – c. 8000-1000 a.C.
Período da Floresta – c. 500 a.C. - 1100 d.C.
Cultura Mississipiana – c. 1100 - 1540 d.C.
É preciso observar que, apesar dos esforços para tornar a datação precisa, as diversas culturas nativas da região se desenvolveram em ritmos e maneiras diferentes. Além disso, a designação ‘Cultura Dalton-Folsom’ é utilizada neste artigo como um termo geral, um período em que várias culturas foram identificadas pelo modo de fabricação de pontas de projéteis.
Determinadas tribos construíram enormes complexos urbanos e se envolveram em atividades agrícolas e comerciais, enquanto outras permaneceram por mais tempo como caçadoras-coletoras nômades ou seminômades. As últimas não devem ser consideradas menos “desenvolvidas” que as primeiras. O modo caçador-coletor foi mantido pelo povo das Grandes Planícies por mais tempo do que os da costa leste, favorecidos pelo terreno e pela caça mais apropriados para aquela região.
Culturas em toda a América do Norte, desenvolveram sociedades altamente sofisticadas, dedicaram-se ao comércio de longa distância, ergueram centros urbanos monumentais e empenharam-se na agricultura em larga escala, criando sistemas de irrigação que podem ser encontrados até hoje em partes dos Estados Unidos (como na região de Phoenix, no Arizona). A chegada de mais e mais colonos europeus nos séculos XVII e XVIII empurraram os nativos americanos para as reservas, obrigados a deixar suas terras em que viveram por milhares de anos. Esses imigrantes da Europa, eventualmente, se consideravam como os legítimos donos das terras outrora habitadas por indígenas.
Você também pode gostar
Cultura Paleoíndia-Clóvis
Os paleoíndios migraram da Ásia para a América do Norte há 40.000 ou 14.000 anos. Com base na dispersão e ampliação das nações nas Américas do Norte, Central e Sul, pesquisadores aceitam como provável a data de 40.000 anos. Essas pessoas podem ter migrado por embarcações, chegando às costas até se estabelecerem em áreas como a atual Califórnia, México e pontos ao sul, enquanto outros migravam por terra.
Pontas feitas por caçadores-coletores. (CC BY-SA).
A cultura Clóvis é identificada como a mais antiga na América do Norte, assim chamada após a primeira descoberta arqueológica em Clóvis, Novo México, em 1929. As “Pontas Clóvis” são pontas de lança de pedra usadas, especialmente na caça de grandes animais, como o grande bisão, o mastodonte, o tigre-dente-de-sabre (Smilodon), entre outros. Estas espécies eram encontradas no Novo México e em todo o continente. A designação Clóvis é usada para identificar caçadores-coletores que sobreviviam dessa megafauna.
A História em Destaque é uma associada da Amazon e recebe uma comissão sobre compra de produtos e serviços qualificados.
Pesquisadores acreditam que os Clóvis adotaram os padrões de migração até passarem a habitar uma região específica. É nesse momento que eles podem ter começado a se envolver no comércio com outros povos. Arqueólogos encontraram pontas de lança distantes de seus locais de fabricação, indicando que pessoas de diferentes sociedades as trocavam através do comércio ou presentes. Essas diferentes regiões ajudam os pesquisadores a identificar os tipos de grupos que as usaram: uma pequena área em uma colina rica em pontas de lança pode ter sido um acampamento de caça.
Quando mais e mais animais de grande porte foram caçados até a sua extinção e, à medida que o clima foi mudando, a caça maior começou a desaparecer e a caça menor sobreviveu. Nesse momento, as pessoas começaram a formar assentamentos permanentes ou semipermanentes próximos de lagos, rios e córregos onde poderiam pescar.
Cultura Dalton-Folsom
Assim como a Cultura Clóvis, a Cultura Dalton-Folsom é assim conhecida a partir de projéteis localizados principalmente no Sudoeste (Folsom) e Centro-Oeste (Dalton) dos Estados Unidos, datados de c. 8500 – 7900 a.C. O estudioso Alan Taylor comenta sobre esse desenvolvimento:
"A mudança climática e o desaparecimento dos mega-animais induziram os bandos nômades a buscar estratégias mais diversificadas para explorar uma gama mais ampla de fontes de alimentos. Os nativos tiveram que aprender mais intimamente seus ambientes locais para colher mariscos, peixes, pássaros, nozes, sementes, bagas e tubérculos. Os índios obtinham mais de sua dieta da pesca, pois desenvolveram redes, armadilhas e anzóis. Sua caça evoluiu para o rastreamento paciente e prolongado de mamíferos mais esquivos, especialmente veados, antílopes pronghorn, alces e caribus. A partir de cerca de nove mil anos atrás, os índios se ajustam às suas presas menores e mais velozes desenvolvendo o atlatl – um lançador de lanças que proporcionava maior empuxo, velocidade e distância. (8-9)

Pontas de projéteis do período paleoindiano na América do Norte. (Domínio Público).
São esses projéteis que dão nome à cultura. O atlatl é somente uma das diversas ferramentas fabricadas nesse período, mas esse povo é caracterizado também pelo desenvolvimento de facas de pedra, raspadores, furadeiras e outras ferramentas. Após cada caçada, as pontas das lanças eram amoladas com um tipo de pedra de amolar. As facas tinham as pontas serrilhadas e afiadas para cortar carnes e couros. É na cultura Dalton-Folsom que vemos os primeiros sinais de crença religiosa em uma vida após a morte, fundamentada em bens funerários descobertos em locais datados desse período.
A História em Destaque é uma associada da Amazon e recebe uma comissão sobre compra de produtos e serviços qualificados.
Período Arcaico
A cultura do Período Arcaico apoiou-se na crença de um poder divino. Esse período é caracterizado pela construção de grandes montes de terra que lhes deram o apelido de “construtores de montes”. Inicialmente, esses montes foram construídos para servir de espaços sagrados onde os rituais eram realizados, como “casa para os deuses” e para elevar o sacerdote.
Poverty Point, Louisiana. (CC BY-SA).
Os primeiros montes foram datados de 5400 a.C., do chamado Período Arcaico Médio. Eles podem ser encontrados especificamente na Louisiana (o Monte Ouachita em Watson Brake, o complexo de montes mais antigos da América do Norte), Mississippi e estados vizinhos. Esses povos estabeleceram assentamentos permanentes, plantas e animais foram domesticados. Os cães já eram domesticados nessa época e viajaram com as primeiras pessoas chegadas da Ásia.
Pequenos assentamentos se desenvolveram em cidades maiores no período arcaico tardio, como Poverty Point, na atual Louisiana. Esse local originou o nome do povo desconhecido que formou o lugar – Poverty Point Culture. Phillip Guier nomeou sua plantação do século XIX com o mesmo nome dessa cultura. Ele cultivava a terra sem saber que as “colinas” de semicírculos concêntricos eram terraplanagens artificiais construídas pelos nativos americanos. Ninguém havia percebido isso até 1953, quando uma fotografia aérea mostrou as obras de terraplanagem erguidas de frente para um platô.
Período da Floresta
A terraplanagem artificial continuou e se ampliou durante o período da floresta (dividido em períodos iniciais, médios e tardios). Esse termo é associado ao sudoeste, leste e regiões centrais da América do Norte, incluindo as Grandes Planícies. É nesse período que a cerâmica se tornou mais refinada, demonstrado em estátuas, ferramentas e armas. Povos como Hohokam ergueram cidades e projetaram sistemas de irrigação eficientes no Sudoeste. No Alasca, a nação Inuit desenvolveu anzóis, facas, arpões e lâmpadas de pedra. Seguindo para o leste, nações individuais construíram montículos não apenas para sepultamentos, mas também como residências, e cada um desses grupos se engajou no comércio local e de longa distância.
A cerâmica Hohokam é frequentemente decorada com desenhos geométricos vermelhos.
Segundo os estudiosos, o desenvolvimento mais expressivo foi na área da religião, evidenciado por artefatos descobertos em vários locais. Poverty Point é um desses lugares que mostra claramente um alto nível de atividade religiosa, como também, residencial. No Período Woodland, alguns locais, como Pinson Mounds, no Tennessee, apresentam construções que foram inteiramente usadas para fins religiosos. Este sítio inclui 17 montes onde foram descobertos artefatos que sugerem nunca ter sido residenciais, mas sim, a um propósito sagrado.
O animismo fazia parte da crença religiosa dos nativos americanos, que tinham a convicção de que todas as coisas na natureza são animadas por um espírito e todas estão conectadas. Eles acreditavam que os humanos viviam em meio ao natural e sobrenatural, e imaginavam as interações com seres não humanos como sociais. Em seus mitos e sonhos, as criaturas e as pessoas podiam se metamorfosear.
A História em Destaque é uma associada da Amazon e recebe uma comissão sobre compra de produtos e serviços qualificados.
Os nativos expressavam essa harmonia em forma de gestos pessoais e comunitários em gratidão pela vida de um animal capturado ou de uma árvore cortada, mas locais sagrados como Pinson Mounds eram outra forma de expressão desse sentimento. Acredita-se que os nativos centralizavam as forças da natureza em um monte que elevava os participantes aos céus, mas os mantinha firmemente conectados à terra. Pensa-se também que os quatro elementos (terra, ar, fogo e água) eram celebrados durante os rituais dos montes.
Cultura Mississipiana
A Cultura Mississipiana recebeu esse nome devido à localização principal do povo que vivia no vale do rio Mississippi. Essa cultura também estabeleceu suas aldeias no vale do rio Tennessee, no vale do rio Ohio e em outros lugares. As comunidades mais conhecidas foram a Cultura Adena (c. 800 a.C. – 1 d.C.) e a Cultura Hopewell (c. 100 a.C. – 500 d.C.) que construíram diversos montes. Assim como na Cultura Poverty Point, os montes da Cultura Hopewell só podem ser reconhecidos e admirados de cima.
Cachimbo de Adena. (CC BY-SA).
Outra cultura, diferente de Adena e Hopewell, fundou a cidade de Cachokia (no atual Illinois), considerado o maior centro urbano da América do Norte antes do século XVIII, que prosperou entre c. 650 a 1350 d.C.
Em Cahokia havia uma ampla praça central, campos de futebol, lojas, calendário solar, residências separadas por classe social, enormes campos de milho e outras culturas. O cultivo do milho cahokiano é um dos aspectos que difere a Cultura Cahokia das culturas anteriores que não dominavam essa técnica.
Outra cidade importante, conhecida atualmente como Moundville, no Alabama, se destinava ao comércio de longa distância e atraiu pessoas para serviços religiosos em 1100 d.C. Em Moundville havia uma hierarquia social estritamente estratificada, demonstrada através de sua arquitetura. Os ricos viviam em construções de madeira no topo dos montes, enquanto as classes mais baixas viviam em cabanas de palha do outro lado da praça.
Bibliografia
Wilson, J. The Earth Shall Weep: A History of Native America. Grove Press, 2000.
PROBST, Melissa. História da América: da era pré-colombiana às independências. InterSaberes, 2016.
Taylor, A. American Colonies: The Settling of North America. Penguin Books, 2002.
DENNIS, Yvonne Wakim. Native American Almanac: More Than 50,000 Years of the Cultures and Histories of Indigenous Peoples. Visible Ink Press, 2016.
MARK, Joshua J. Pre-Colonial North America. Publicado em: 6 de maio de 2021. Disponível em: https://www.worldhistory.org/Pre-Colonial_North_America/. Acesso em: 18 de dezembro de 2024.














